A cena é comum. Vizinhos discutem aos berros, fazendo com que o condomínio inteiro ouça o conteúdo da conversa. Muitas vezes o motivo da briga é algo que poderia ser resolvido em uma conversa simples e calma, mas por diversos motivos isso não acontece.
Às vezes sobra também para o síndico, que vira uma espécie de mediador de conflitos, que poderiam ser evitados com uma boa conversa.
“90% dos casos de reclamação e brigas são por motivos pequenos, que poderiam ser resolvidos facilmente, com diálogo e educação. Isso sobrecarrega síndicos e administradores, além de criar inimizades entre vizinhos”, diz Carlos Alberto Tassi, diretor da Lex Imóveis, de Passo Fundo (RS).
Visando melhorar o relacionamento entre moradores, a equipe do LicitaMais elaborou um guia com 10 itens para orientar os condôminos como agir em casos específicos.
1 – Cuide de seus animais
Pode parecer óbvio que, em condomínios, o porte do animal de estimação deve ser menor que em uma casa ou chácara. Porém nem sempre esta premissa é respeitada. Ou pior, alguns cães de pequeno porte fazem mais barulho que os maiores. Por isso, fazer com que o “totó” não fique estressado (passeando com ele, brincando, dando atenção e espaço) já é uma atitude positiva no relacionamento. Além disso, procure segurar o animal no colo ao entrar no elevador, limpar o cocô e não deixar o cão passear na caixa de areia das crianças. Lembre-se que se o animal não apresenta risco e não perturbar o sossego dos demais condôminos, mesmo se a convenção disser o contrário, ele poderá ficar.
Mas e se o problema for o cachorro do vizinho? “Convide o vizinho para um café e quando estiverem batendo um papo descontraído conte uma história parecida com o que está ocorrendo. Espere para ver os comentários que ele faz e fale o que incomoda. Esteja preparado também para que no momento que você citar o seu problema a reação dele seja oposta às opiniões dadas anteriormente”, orienta Heloisa Sundfeld, consultora pessoal da Help Personal Assistant.
2 – Certifique-se de que sua reforma vai incomodar o mínimo possível seus vizinhos
O mercado de imóveis está aquecido e, com isso, muitos são os interessados em melhorar a estrutura dos mesmos, seja para valorizá-lo ou para ter mais conforto. O ideal é que as obras sejam feitas no horário comercial, quando a maioria dos vizinhos está trabalhando. É importante seguir os horários estipulados no regulamento, avisar os vizinhos sobre a obra e se colocar à disposição caso haja algo a fazer para não incomodar tanto.
“Também é importante avisar a todos antes de começar as obras, incluindo vizinhos, síndico e até os funcionários do condomínio, a fim de que fiquem preparados para os ruídos e o entra-e-sai de pedreiros e materiais”, diz Tassi.
3 – Cuidado com o barulho
Festas, conversas exaltadas, som alto. Alguns moradores tremem só de pensar no silêncio que gostariam de ter, mas que não acontece. Na maioria dos casos, principalmente quando passa das dez da noite, um simples telefonema é suficiente para diminuir os ruídos.
Pense também, se alguém reclamar de você? Na maioria dos casos é possível deixar de incomodar o vizinho sem perder sua liberdade e sem gastar nenhum centavo. Pense e tenha boa vontade para resolver o problema do outro. Quem sabe da próxima vez não será você a reclamar?
“O ideal é uma conversa entre os próprios moradores sobre isso, pois quando o síndico é acionado e vai falar com o morador, sempre ouve a frase ‘Mas por que ele não veio falar diretamente comigo?’ Isso acaba incluindo mais um membro no conflito e aumentando a inimizade”, afirma Tassi.
4 – Oriente as crianças
Filhos são um dos principais motivos das brigas entre condôminos. Dentro de casa, podem fazer de tudo, que muitos pais não ligam. Mas quem sai prejudicado são os vizinhos. Deixe claro para seus filhos o que eles podem e não podem fazer. Se alguém reclamar de um deles, escute atentamente tanto a versão do adulto como a da criança, e aplique castigos se for necessário. Mesmo se você não tiver crianças é importante que entenda a necessidade de brincar e gastar energia delas. A solução para a maioria dos problemas causados por crianças e adolescentes pode ser encontrada dando para elas atividades adequadas. E o condomínio pode oferecer isso.
“Peça ao vizinho que vá até sua casa no momento em que o barulho estiver muito alto para que ele escute e perceba o quanto incomoda. Antes de fazer a reclamação observe se os membros de sua família não se comportam da mesma maneira, ou seja, se você e sua família também incomodam os vizinhos”, fala Sundfeld.
5 – Use corretamente os espaços comuns
Esta regra também é aplicada às crianças, já que elas usam as áreas comuns para brincar. Porém, em condomínios em que não há espaço próprio, deve ser respeitada a convenção coletiva, para garantir a segurança dos pequenos e a boa convivência.
“O melhor é colocar na convenção multas que serão aplicadas aos pais ou responsáveis. Essa é uma maneira que em geral funciona porque pesa no bolso”, diz Sundfeld.
6 – Festas somente até as 10h da noite
Usar o salão de festas é direito de todos. Mas existem aqueles que exageram no barulho e/ou avançam o horário estabelecido. Nestes casos, se aplicam as orientações acima: respeite os espaços comuns, preocupe-se em não atrapalhar o sossego do vizinho e seja educado quando alguém solicitar o encerramento da festa por causa do horário, ou que diminua o volume da música.
7 – Preste atenção às garagens
Portas riscadas, carros colocados na garagem alheia... Tudo isso gera muito conflito em condomínios. Nestes casos, tomar cuidado é primordial. Outra atitude também é importante: conhecer o vizinho. Somente assim você saberá como pensa o dono do carro ao lado e o que ele pensa sobre você.
Isto leva a outro aspecto. “As pessoas não se conhecem e não se falam. São vizinhos, mas se encontram somente nas assembleias. Assim, não conversam e relutam em resolver os problemas em conjunto e usando a conversa”, diz Carlos Alberto Tassi, que também é administrador de condomínios.
8 – Conheça seus direitos e deveres
Algumas discussões são ocasionadas pela falta de conhecimento das regras do condomínio. Por isso é importante ler a convenção e a legislação sobre condomínios, que contêm todos os itens estabelecidos para uma convivência saudável entre os moradores. É interessante tanto para saber o que é permitido ou proibido, quanto para cobrar o vizinho caso este faça algo errado.
9 – Prefira sempre o diálogo
Gritar, ameaçar e xingar não são apenas atitudes moralmente condenáveis, mas acabam por tirar a razão de quem os comete. Todos sabem que atualmente o dia a dia das pessoas é estressante, mas o vizinho muitas vezes não tem culpa disso.
Quando a tentativa for em vão, a consultora pessoal Heloisa Sundfeld orienta:
• Leve o problema ao conhecimento do síndico, que deverá tomar uma atitude de acordo com a convenção do condomínio;
• Não resolvendo, pedir para que seja convocada uma reunião de condomínio para discussão do assunto, na qual todos os condôminos poderão dar sua opinião e procurar uma solução.
• Caso após essa reunião não haja consenso ou o problema persista, a prejudicada pode enviar uma carta à pessoa que está lhe prejudicando com cópia ao síndico, avisando que irá tomar uma atitude mais drástica. Como, por exemplo, fazer um boletim de ocorrência na delegacia.
• Continuando o problema, só resta entrar na justiça, nos tribunais de pequenas causas que por meio de especialistas em mediação e arbitragem normalmente conseguem resolver a situação.
10 – Seja tolerante
Ok, o vizinho é chato, coloca música alta, parece que faz o possível para irritar o outro. Mas será que ele faz de propósito? Provavelmente não. Muitas vezes, a música está alta por apenas alguns instantes, as crianças brincam até chegar a hora do banho e o cachorro está ansioso para ver a chegada do dono.
Além disso, quem nunca fez um barulho a mais, usou o salão além do horário, e saiu “impune”, sem que houvesse uma reclamação sequer? Se as pessoas são tolerantes com você, por que não ser com elas também?